“A Lenda de Tarzan”

Depois de ver o mortiço Alexander Skarsgard personificar, em “A Lenda de Tarzan”, o Rei da Selva criado por Edgar Rice Burroughs, continuo na minha: o melhor Tarzan das últimas décadas é ainda o da longa-metragem de animação da Disney de 1999. Até o Tarzan de Christopher Lambert do malfadado “Greystoke – A Lenda de Tarzan o Rei da Selva”, de Hugh Hudson (1984), parece melhor do que o deste sorumbático Skarsgard. O filme, realizado por David Yates, que assinou, tão robótica e anonimamente como assina este “Tarzan”, quatro títulos da série “Harry Potter”, também não é melhor que a sua vedeta. Trata-se de uma tentativa falhada de conciliar a aventura de grande espetáculo como manda a tradição, e agora recorrendo com abundância aos efeitos digitais, com os melindres da agenda politicamente correta dos nossos dias (o Homem-Macaco torna-se portador de uma mensagem anti-colonialista, anti-imperialista e anti-racista). Nem o vilão belga interpretado por Christoph Waltz com um jeitinho “bondiano” se salva. E que ideia imbecil foi aquela de substituir La, a capitosa rainha-sacerdotisa de Opar, por um rei? Burroughs deve ter dado três mortais encarpados na tumba.

“Um Traidor dos Nossos”

De repente, parece que toda a gente no cinema e na televisão se lembrou de começar a fazer adaptações de livros de John Le Carré. Este “Um Traidor dos Nossos”, realizado por Susanna White, não é um filme tão bom como “A Toupeira”, de Tomas Alfredson, com Gary Oldman no papel de George Smiley, mas o livro também não é um dos melhores de Le Carré. Um casal britânico, ele (Ewan McGregor) professor universitário de literatura, ela (Naomie Harris) advogada, vê-se envolvido com um mafioso russo (Stellan Skarsgard) que quer fugir para o Ocidente, oferecendo em troca preciosas informações sobre políticos britânicos corruptos, e propõe ao professor que sirva de ser intermediário junto dos serviços secretos ingleses. O filme tem tanto de Le Carré como de intriga ao jeito hitchcokiano e de acção “à la 007”, mas é suficiente para entreter decentemente durante o pouco mais de hora e meia que dura. E reparem na forma como Le Carré homenageia o seu colega Len Deighton e o “seu” agente Harry Palmer, na figura da personagem de Damian Lewis.

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“O Amigo Gigante”

O primeiro filme de Steven Sipelberg realizado para a Disney é uma fantasia feérica com fagulhas de terror, mas também muito bem-humorada e estriada de uma excentricidade unicamente “british”, adaptada de um clássico da literatura infantil escrito por Roald Dahl, “O Amigo Gigante” (“The BFG”, no original). Conta a história da amizade improvável mas férrea entre uma menina órfã chamada Sophie (Ruby Barnhill) e um gigante (Mark Rylance transfigurado pelos efeitos digitais) que em vez de ser mau, carnívoro e adorar devorar crianças, como todos os outros gigantes, é bonzinho, amável e vegetariano militante. “O Amigo Gigante” foi o último filme escrito pela falecida Melissa Mathison, ex-mulher de Harrison Ford, que morreu de cancro no final de 2015 e assinou, famosamente, para Spielberg, “E.T. – O Extraterrestre” (a fita é-lhe dedicada), e foi escolhido pelo Observador como filme da semana. Pode ler a crítica aqui.